data de lançamento:2025-01-19 17:17 tempo visitado:99
Chegou ao fim o annus horribilis 2024. Ano mais quente após 2023, o primeiro com temperatura global acima de 1,5ºC, recorde de emissões de carbono, Trump eleito de novo, Putin e Bolsonaro soltosboi bet, Lula dando murros na faca apontada pelo mercado, genocídio em Gaza com cem reféns ainda covardemente retidos...
Para cumular, houve os fiascos psicodélicos, que deitaram um contêiner de água gelada nas esperanças de milhões com transtornos psíquicos como depressão, estresse pós-traumático (TEPT) e abuso de substâncias. A boa notícia para 2025: ficou tão ruim em 2024 que, daqui para a frente, o mais provável é melhorar.
Devagar com o otimismo, portanto. O ano passado enfileirou más novas, a primeira vindo em março com o parecer desfavorável à psicoterapia com MDMA (ecstasy) divulgado pelo Instituto para Revisão Clínica e Econômica (Icer, em inglês), um órgão independente que analisa custos e benefícios de novas terapias.
Em junho, um comitê consultivo da agência norte-americana de fármacos FDA enveredou pela mesma trilha contra o protocolo da empresa Lykos Therapeutics para tratar TEPT com MDMA. Foi menor a surpresa, assim, quando a própria FDA detonou a expectativa pela aprovação do tratamento psicodélico, em agosto.
Na eleição de novembro nos EUA, saiu derrotado referendo que visava descriminalizar psicodélicos no estado de Massachusetts. Pouco antes da virada do ano, veio à tona que ficará em banho-maria iniciativa parlamentar semelhante em Nova Jersey. Não veio ainda a avalanche antiproibicionista esperada após os precedentes de Oregon e Colorado.
jogo do tigreHá quem veja em tais fracassos o necessário freio de arrumação, mas parece mais um capotamento. Mesmo saindo vivas, firmas investidas nessa inovação terapêutica tiveram de amputar partes das estruturas e readequar planos para longa convalescença, como a própria Lykos e a Compass Pathways.
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Poderão progredir em 2025 duas estratégias diversionistas para contornar o obstáculo regulatório. Uma delas seria abrir mão da psicoterapia e prosseguir com os testes clínicos medindo somente a eficácia da droga, sem as sessões de integração psicológica (interpretação etc.) até então quase onipresentes nos protocolos de pesquisa –empresas como Compass já caminham nessa direção.
Outra manobra em que alguns pesquisadores apostam é projetar moléculas inspiradas em substâncias similares à psilocibina ou ibogaína, mas destituídas de efeito psicodélico. Este blog já defendeu designá-los como parapsicodélicos, mas não colou.
O mais conhecido é David Olson, da Universidade da Califórnia em Davis, defensor dos psicoplastógenos, drogas que funcionariam como os antidepressivos atuais, pílulas para tomar regular e independentemente de psicoterapia (lembrando que eles, além de efeitos colaterais, não funcionam para ao menos um terço dos pacientes). Em 2023, iniciaram-se 12 estudos de fases 1 a 3 com psicoplastógenos.
Outros entendem que não há como tomar atalhos para contornar meandros da psiquê. Se há falta de rigor na aplicação de métodos terapêuticos, como parece apontar revisão sistemática recente no periódico Lancet, o correto seria melhorá-los, não desistir deles. De todo modo, líderes da área como Rick Doblin e Michael Mithoefer, discordam de que tenha havido frouxidão nos testes de fase 3 da Lykos.
O ano que começa abre ampla avenida para aprender com o fracasso na FDA. Empresas como a Cybin já aperfeiçoam seus protocolos com base nas lições obtidas, e ela se prepara para buscar em 2027 aprovação para uma forma modificada de psilocibina (CYB003).
Há outras indicações de que 2025 poderá ser o ano da volta por cima dos psicodélicos, a começar pela Europa. Um exemplo do potencial terapêutico em vista está na decisão da Associação Europeia de Cuidados Paliativos (EAPC, em inglês) de destinar € 6,5 milhões (R$ 42 milhões) ao ensaio clínico PsyPal.
A proposta é investigar uso da psilocibina para aliviar o sofrimento em quatro enfermidades progressivas: doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), esclerose múltipla, esclerose lateral amiotrófica (ELA) e parkisonismo atípico. Lançado em 2024, o estudo planeja recrutar mais de cem pacientes.
Na Holanda, uma comissão de especialistas recomendou ao governo investir em estudos com psicodélicos. Não só testes clínicos, mas pesquisas também sobre o crescente uso adulto de substâncias como psilocibina e cogumelos, fora de contexto clínico.
Outro augúrio vem da atitude receptiva a psicodélicos por parte de profissionais de saúde, ao menos nos EUA. Levantamento Brain Futures com líderes acadêmicos nas áreas de aconselhamento, serviço social, enfermagem e psicologia mostrou que 79% deles consideram promissores tratamentos psicodélicos para transtornos psiquiátricos.
Por paradoxal que pareça, a maior animação com as perspectivas de psicoterapias psicodélicas em 2025 deriva do retorno de Trump à Presidência dos EUA. Ele chamou para dirigir o Departamento de Saúde Robert Kennedy Jr, controverso questionador de vacinas que, no entanto, defende psicodélicos.
Se Trump, secundado pelo fogueteiro Elon Musk (outro direitista adepto de psicodélicos), conseguir pôr em prática as medidas desreguladoras, protecionistas e xenófobas que prometeu, não só os norte-americanos, mas nós todos, vamos precisar de muitas drogas para combater efeitos adversos de suas políticas.
O pior não virá em 2025, mas nos anos seguintes. Como disse o conselheiro Acácio (ou terá sido o Barão de Itararé?), as consequências sempre vêm depois.
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